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Secretário-geral da Interpol diz que não há flagrante para crimes virtuais e condenar culpado é difícil

A Internet facilitou a aplicação de fraudes além das fronteiras, a Interpol tem um papel central na investigação dessa modalidade criminal


O secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza, diz que criminosos que optam pelos golpes virtuais têm duas vantagens em relação a quem atua no crime tradicional: reduzir riscos de enfrentamento às forças de segurança e de prisão em flagrante. —


"Isso leva a uma redução da capacidade de tipificação [enquadrar o delito dentro de um tipo penal] e de levá-los ao sistema de Justiça criminal", afirmou Valdecy durante evento da Febraban ——_— Imagem/Reprodução: Secretário Geral Interpol


"Tivemos um estudo há dois anos, feito em um país específico, de que [em um universo de] 111 mil ocorrências relacionadas a fraude ou crimes praticados através de serviços de internet, somente 2% levaram de fato a uma condenação em um tribunal", exemplificou o delegado licenciado da Polícia Federal.


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No Brasil, os delitos virtuais não se enquadram como crime violento. Em vista disso, as polícias e o Ministério Público têm dificuldades para conseguir prisões preventivas, o que permite que os suspeitos aguardem seus julgamentos em liberdade.


Urquiza foi eleito secretário-geral da Interpol em assembleia do organismo multilateral promovida no último mês de novembro. A Interpol articula corpos policiais de 196 países e tem mandato para organizar trocas de informação e cooperações internacionais entre essas forças.


Como a internet facilitou a atuação transnacional de quadrilhas ao permitir a aplicação de fraudes além das fronteiras, a Interpol tem um papel central na investigação dessa modalidade criminal.


Urquiza citou o exemplo de um golpe em Singapura que gerou um prejuízo bilionário para a empresa vitimada, que acabou quase completamente revertido após a atuação da entidade.


Tratava-se de um gigante das commodities, o qual "achou que se comunicava com fornecedores e permitiu uma transação de 41 milhões de euros, e três dias depois se identificou que era um caso de fraude", recordou o secretário-geral.


Graças a um sistema da Interpol chamado I-Grip (Rápida Intervenção Global em Pagamentos da Interpol), as autoridades de Singapura descobriram que a maior parte dos valores foi transferida para o Timor Leste (38 milhões de euros).


A Interpol, então, mediou a relação entre as autoridades singapurianas e timorenses e agilizou a expedição de mandados de busca, apreensão e, depois, de prisão contra três suspeitos.


"No fim, encontramos mais 1,5 milhão de euros, quase a totalidade do rombo foi devolvida", recordou Urquiza.


A maior operação da Polícia Federal contra cibercrime também foi uma cooperação articulada pela Interpol entre autoridades brasileiras e espanholas. A ação, deflagrada em janeiro do ano passado, desmantelou o grupo nacional Grandoreiro, que tinha atuação em 45 países.


Além de organizar a cooperação entre autoridades de diversos países, a Interpol centraliza dados sobre criminosos procurados de todo o mundo. "São mais de 1,5 bilhão de consultas individuais a nossas informações todos os anos", disse Urquiza.


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A polícia internacional, sediada em Lyon, também mantém um centro de inovação em Singapura, focado no desenvolvimento de ferramentas de investigação do crime organizado na internet.


A Interpol ainda mantém cooperação com entidades da iniciativa privada para troca de informações. "As empresas do setor financeiro e seus clientes são as principais vítimas do crime online e precisam participar desse debate", afirma.


Um dos recursos desenvolvidos na sede singapuriana foi uma ferramenta para empresas selecionadas do setor financeiro. O recurso permite que bancos consultem se a pessoa que solicita a abertura de conta está envolvida com o crime transnacional. "Isso é feito de forma automática e sem detalhamentos", é apenas uma checagem, diz o secretário-geral da Interpol.


Criada em resposta aos primeiros passos do crime transnacional após a popularização dos meios de transporte de longas distâncias, a entidade ainda ajuda no controle migratório, ajudando países a identificar ameaças desde a decolagem em voos internacionais. "Fazemos mais de 300 mil cruzamentos de informação por ano."




 
 
 

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